sexta-feira, março 18, 2016

Playing Experience - Elarinya Goldstorm

Acho que nunca conheci um RPGista que não gostasse de falar sobre o próprio personagem e as próprias aventuras. Alguns são mais comedidos, outros falam mais aberta e fluidamente. Eu geralmente ouço mais que falo, mas eu gosto de guardar as memórias.
Eu também acho que podemos ter experiências enriquecedores, e seguras, através dos personagens. O que eu vou tentar fazer é contar um pouco do que eu pude experienciar com cada personagem.

Asahina Yukihime é certamente o meu personagem atual mais querido, acho que ela foi muito bem sucedida em expressar o que eu queria (e precisava), sem se dobrar a vontade dos outros. Ela disse o 'não' - polido, delicado, Rokugani - mais importante dos últimos anos da minha vida. Ela tinha um comportamento protocolar, o que significa que provavelmente só eu conheço de verdade as intenções e o amago da personagem, mas é o suficiente para mim. Nesse caso talvez seja até melhor assim.

Mas eu vou falar da minha experiência como Elarinya, a personagem mais recente. O jogo de D&D 3.5 durou de outubro de 2015 até o fim de semana passado, meados de março de 2016. Foram 27 jogos de cerca de 8 horas de duração cada.
No começo do jogo Elarinya tinha um irmão gêmeo, que era personagem de outro jogador. O jogo começou com um cena dos personagens crianças, onde os personagens jogadores tiveram a chance de decidir sobre poupar a ceifar a vida de um filhote de dragão. Optaram unanimemente por poupar o dragão que então se tornou um antagonista menor, que buscava manipular a gentileza os personagens para se vingar do ataque sofrido.

Elarinya e o irmão rapidamente se distanciaram em matéria de valores e conduta, como é esperado em jogo. Os pais dos personagens apareceram em cenas rápidas ou via carta, de forma que ela e o irmão não tinham um senso real de infância em comum, assumo que simplesmente não compartilhavam as mesmas brincadeiras.

O relacionamento com o irmão foi pobremente explorado no jogo, até porque a composição da mesa não favorecia isso, e no final esse jogador acabou deixando a campanha relativamente no começo da história.

Elarinya é uma gestalt Wizard/Cleric, clériga de Hanali, deusa do amor, beleza, sensualidade, desejo e temas que me assombram um pouco em jogo. No começo eu me sentia bem ridícula como 'clériga do amor', e na verdade nunca foi fácil representar essa parte do personagem publicamente, por mais que eu tenha pensado alguns bons discursos e argumentos sobre o valor do amor. Foi um exercício interessante, de certa forma subjugar a racionalidade (que eu naturalmente valorizo mais) à alguns impulsos afetivos. Novamente, isso poderia ter sido uma experiência incrível, mas não foi bem explorado, em parte pela minha inibição, outra parte porque o jogo tinha outras necessidades. 

Aqui nós temos os personagens que iniciaram a campanha, Príncipe da Coroa de Ouro; Kolvar Stormbringer (NPC), Lord Sudryl Diskchaser (NPC), Lady dos Avariel Odete (PC), Lady Anyllan Sunburn (NPC - irmã do Arquimago evocador, Lord Zaor), Elarinya Goldstorm (PC), Harael Goldstorm(PC) e Seith Waveedge(NPC). - Arte pela Olga Hazin.

Eles estão usando uniformes da academia arcana, azul para o Abjuradores e vermelho para o Evocadores, o Seith é um Ilusionista, devia usar amarelo mas ele é too cool for school e não usa uniforme.

O tempo na academia arcana foi uma grande 'intro' para o jogo, permitindo aos players se familiarizar com o mundo e com a situação na qual estávamos imersos. Essa situação era uma releitura da 1a Guerra das Coroas de Forgotten Realms, um conflito que envolve a vontade dos elfos mortais e a vontade dos deuses.
Elarinya se envolveu nesse conflito completamente por ser clériga, e pela tentativa de 'acabarem' com Hanali, 'aprisionando-a' na forma de deusa Trina (junto com Sehanine e Aerdrie), isso obviamente representa uma mudança tão profunda na fé que em alguns momentos, quando Hanali estava presa/em forma de deusa trina, Elarinya não tinha acesso aos seus poderes de clériga. Em on objetivo dela era fortalecer a fé, através da qual ela poderia fortalecer a deusa, que de fato, nessa versão do mundo, não virou deusa Trina (ao menos não ainda). É muito divertido afetar o mundo dessa forma tão profunda, especialmente porque eu conhecia a história oficial relativamente bem e podia ver o quanto meu personagem estava mudando tudo aquilo.

E a Elarinya cresceu ao longo do jogo, para as formas mais sinuosas que se poderia esperar da Sumo-sacerdotisa de Hanali Celanil, algo que ela veio a se tornar depois que sua catedral foi atacada e várias clérigas foram mortas.
Elarinya - Arte por Esther

O jogo começou a ter um fundo de frustração conforme a história andava, a vontade dos deuses se revelava e alguns personagens ficavam meio perdidos no processo.
Durante as primeiras tentativas de reforma religiosa, que buscavam fundir as três deusas na entidade trina, o Príncipe Kolvar logo se colocou como defensor da antiga fé e da deusa Araushnee em particular. Por um motivo ou outro todos os personagens optaram por seguir o Kolvar e a história tomou esse rumo.
No âmbito politico havia uma guerra entre a coroa de ouro e a coroa de ferro, uma vez que o rei dos elfos de ferro não havia deixado um herdeiro e os nobres da coroa de ouro se consideravam a linhagem de direito. Porem, os Reis são a vontade do deus Corellon, e a religião que legitima o poder desses regentes. Assim o Kolvar foi mandado em uma missão suicida para tomar a coroa de ferro, os personagens o seguiram e tornaram a missão menos suicida. Mas a busca não foi fácil, envolveu uma luta por poder e muitos sacrifícios, a maioria deles de inimigos, algo que não incomodava Elarinya mas era critico para outros personagens. 

Ela supostamente teve um relacionamento com o Sudryl, eu digo supostamente porque ela pediu ele em on, durante um jogo (apesar de não ter outros players nessa cena). Algo meio inconcebível pra mim, porque eu acho que nunca faria isso no mundo real. Ela teve que insistir um tanto, isso foi interessante, quase lembrou aquele frio na barriga de pré-adolescente, quando você se torce de ansiedade para saber se alguém gosta de você ou não. Logo o NPC, com ressalvas, concordou. Depois de um tempo o mestre disse que o NPC concordou só para eu não me frustrar (apesar da minha frustração não ter sido levada em conta em váaaaaarios outros jogos, mas não vem ao caso). Ter me dito isso meio que derrotou o proposito de ter permitido ao NPC aceitar a proposta, azedou um pouco o gosto da experiência. Eu preferia uma experiencia autentica, nem que fosse um fora autentico, acho que um clérigo do amor teria muito a aprender com rejeição.
Em off, só posso dizer que 'acontece', como GM eu já estraguei coisas que eram importantes para os players também, infelizmente. Conversamos sobre o relacionamento dos personagens algumas vezes mas nada apareceu em on que desse legitimidade a isso. Uma pena, o plot do amor, desejo, afetividade tinha tudo ha ver com a personagem, mas não rolou, novamente, em parte por inibição minha. E era uma baita oportunidade de lidar com um tema que eu evito (quando eu falar dos outros personagens talvez uma certo "padrão" emerja).

Eu esperava que tivesse sido um personagem cheio de amor e sentimentos leves, por um tempo no começo do jogo até foi (tudo correu de uma forma que era possível gostar muito do irmão mesmo ele pensando de forma muito dispare a da Elarinya), com o avanço do plot eu sempre passo pela frustração de me ver esperando o grupo. Isso é legal depois que eu penso no jogo mas no momento do jogo eu sou tomada de uma ansiedade monstra, é um sentimento meu, não do personagem. Lembra muito ansiedade de criança antes da excursão da escola e é o tipo de sentimento que sobrevive em relação ao jogo mas eu já não tenho no mundo real.

Em um momento muito tenso a Elarinya deu um discurso antagonizando com o grupo todo, eu não sabia o que iria acontecer dessa cena, se ela fosse desafiada por mais de um PC ela não teria como se impor totalmente, se rolasse iniciativa o clima poderia ficar pesado em on off. Embora a personagem devesse falar com a confiança de um nobre que foi educado para liderar a vida toda eu estava com a voz e as mãos tremulas. Acho que esse foi um passo importante no sentido de 'fazer o que o personagem tem que fazer', algo que muitas vezes eu evito em prol de manter o clima do jogo ameno. Ninguem ficou muito feliz mas, por um tempo, as coisas saíram como a personagem queria, tive a momentânea sensação de poder e de respeito, o que foi muito legal, especialmente porque não veio endossada pelo mestre, mas sim pelo grupo. Penso que as vezes, na medida do possível, devíamos ser mais generosos em proporcionar aos nossos pares algumas experiências assim.



quinta-feira, março 17, 2016

A Raposa: Ao longo do tempo...

A Raposa filhote imaginava a Raposa adulta de uma forma muito especifica; Ela se vestia elegante, tinha o cabelo bonito, usava salto no dia a dia, mas não muito alto. Trabalhava bastante, não especialmente gostava do que fazia mas tinhas os resultados, wow, impressionantes! Ela não era especialmente feliz, mas sorria bastante.
A Raposa filhote não sabia o que a Raposa adulta fazia, acho que nenhuma delas sabe até hoje.
A Raposa adulta não era casada, mas morava com alguém, era tipo um sócio. Alguém inteligente, com um trabalho interessante também. Alguém para conversar no jantar, em uma mesa de vidro redonda, com lustres do tipo pendente em cima e taças de vinho. No mais, cada um tinha sua vida e muita liberdade, dentro dos horários. Sem filhos, sem cachorro, tudo limpo, arrumado e racionalmente decidido o tempo todo. Com algumas viagens anuais para o exterior, bem organizadas. 

Alternativamente; ela podia ser astronauta.

A Raposa filhote era realmente clueless, porque nada na vida dela, nunca, sequer insinuou a direção de ser essa Raposa adulta que ela pensava. Nem os pais ela eram! Nem ninguém que ela conhecesse era.

A Raposa filhote cresceu, mas não muito. Ela comprou todos os brinquedos que a Raposa filhote queria. Saiu de mochila, e queria sair mais. Odeia horários. Ela usa tênis e só recentemente trocou as camisetas por 'umas blusinhas', o cabelo é bagunçado e fazer as unhas é a coisa que mais lhe da aflição, então ela quase nunca faz. Ela não saiu muito elegante. Não sobrou muita independência e a liberdade é toda limitada pela responsabilidade com os outros, e com os sentimentos dos outros. Nunca foi planejado que os outros viessem com sentimentos, era para virem com racionalidade, mas todo mundo vem com os dois, e com mais um pouco de outras coisas também.
A Raposa, que não é filhote e não é adulto, como acontece muito na geração dela, tem dois gatos, dois cachorros ( <3 ) e um namorado (por enquanto). As conversas bacanas vem e vão, as vezes estão, as vezes não. Ela estudou um monte de coisas, passou no vestibular quatro vezes mas só fez uma graduação (por enquanto), ela acha que não sabe nada e precisa de mais vários cursos, mesmo que não dê para saber tudo.
Ela teve vários trabalhos, alguns muito legais, e descobriu que quase nunca alguém quer ouvir sobre isso. Ela conheceu muitas coisas felizes e tem a pretensão de repetir algumas e conhecer várias outras. A casa é alugada, sem mesa de vidro ou lustres, mas os sonhos ficaram muito, muito maiores!