domingo, outubro 04, 2015

Internet do Facebook

Eu conheci muitas pessoas pela internet. Muitos que se tornaram apenas contatos de facebook, mas também muitos que se tornaram bons amigos, daqueles que você encontra raramente, quando a “vida de trabalhador adulto” permite, mas que ainda assim sempre é bom encontrar. 
Eu conheci muita gente conversando em chats aleatórios, gente que tinha algo há ver, gente nada há ver também. Conversar era uma das coisas mais legais para se fazer online. Conversar com um nick random, as cegas, sem saber, e graças aos céus muitas vezes sem se importar com gênero, raça e todas essas coisas. Era a melhor parte da internet.
Vão dizer que eu sou saudosista - eu sou, é verdade - mas hoje a internet virou o lugar em que é bonito odiar, “tocar o foda-se”, excluir alguém por causa de partido, de religião, de opinião. Virou o reino da intolerância onde não se constrói nada positivo a partir de posicionamentos diferentes, apenas segregação.

Eu gostava de não saber, eu gostava quando não importava se as letras que brotavam na minha tela vinham de branco, negro, gordo, magro, doente, gay, hetero, horda ou aliança. Me sinto como alguém que teve a sorte de experimentar um mundo onde nada disso importava. Alguém que pôde se surpreender com cada um dos contatos que conheceu pessoalmente sem ter visto uma única foto antes. Alguém que não fugiu de nenhum ‘IRContro’ porque já conversava tanto, já tinha tanto em comum com as pessoas, que as aparências não importavam mais (e eu sou péssima em nota-las também; "a pior fisionomista que existe", me dizem).

Eu gostava de começar conversas falando sobre música, filmes, RPG, esoterismo, mitologia, o jornal de ontem. Coisas nas quais não sou expert, e deixar a coisa rolar. De conversar com gente que também não se importava em saber se eu era mulher ou homem (eu raramente respondia quando isso era perguntado).

Recentemente eu tive uma experiência interessante conversando com um vendedor do eBay, com quem puxei assunto meio casualmente depois de fazer uma pergunta em um dos itens que ele estava vendendo, e eu acabei comprando. E nos trocamos várias mensagens e conversamos bastante, até o negócio ir para o Facebook, onde a conversa se transformou em eventuais likes timidos e um grupo de jogo em comum.

O Facebook é esse espaço meio público de mais, onde ninguém consegue achar seu papel. Você  tem que ser o filho, a mãe/pai, o profissional, o primo descolado, o amigo, a pessoa que você gostaria de ser e mais um monte de coisas, tudo porque você está, inevitavelmente, exposto a todos os seus círculos sociais ao mesmo tempo, de uma forma que nunca aconteceria na realidade. Na realidade ninguem tem que desempenhar todos os seus papéis ao mesmo tempo. Alguns são simultaneos as vezes, e já não é facil.


Eu sinto falta da internet sem foto, sem rotulo, sem idade. Da internet onde você tinha que conversar com as pessoas para conhece-las, não fuçar a wall delas e tirar conclusões (muitas vezes equivocadas). Da internet onde as coisas não aconteciam do mesmo jeito que acontecem no mundo real.