segunda-feira, julho 26, 2010

Not so real story...

Ela pousou o sapato vermelho, fino e de salto alto, para dentro num passo decidido. Sem deter o estalo tipico da sola contra o chão. Foi sua primeira frustração naquela noite, ninguem se virou para olhar a estranha que adentrava o recinto.

Os olhos eram castanhos, mas a cuidadosa maquiagem os emoldurava artisticamente. Cilions negros e longos envoltos em himel, o contorno de lapis negro e a sombra clara conferiam um certo perigo, bastante intencional, àquele olhar. Tudo havia sido calculado, então ela não permitiu que os olhos demonstrassem que... aquele lugar também não era o que ela esperava.

O piso de madeira gasta vez ou outra rangia desagradavelmente. Os homens riam e falavam alto esalando cheiro de alcool do mais barato. Junto a porta não haviam sobre-tudos ou chapéus, algumas moças, bem mais novas que ela, se debruçavam despudoradamente sobre as mesas de bilhar. Ela não se lembrava de ter visto mesas de bilhar em filme algum.

Ela se aproximou do balcão com passos decididos. Os cabelos tingidos de um ruivo discreto oscilavam com o caminhar e algumas mechas recaim sobre o colo, exposto de forma generosa mas nada vulgar pelo vestido longo. Ela era bonita...não, na verdade não muito. Mas no momento se concentrava em acreditar que fosse e se comportar como se fosse. Atitude faz cinquenta por cento do serviço afinal. É quase como... fé... cinquenta por cento.

Os bancos altos estavam espalhados e não combinavam. Algumas pessoas a olharam, alguns homens até, mas nada aconteceu. Conteve o desagrado e juntou um banco para sí, trazendo-o pra junto do balcão. Sentou-se ali e esperou... esperou...

Tinha se vestido para viver uma aventura, os brincos de brilhantes falsos enganavam bem, realçavam orelhas pequenas e um rosto de contorno nitidamente feminino. A gargantilha ao redor do pescoço combinava com o anel, que era um pouco largo nos dedos magros e longos. "Mãos de pianista" a mãe dela dizia, mas ela nunca soube tocar instrumento algum.

Finalmente o barman apareceu, respirou fundo, seria o segundo homem com quem falaria naquela noite, o primeiro forá o taxista. Era um barman cansado, sem informações secretas a passar e bastante desinteressante na verdade. Ela ficou nervosa, não conseguia se lembrar o que devia pedir. Os olhos correram as prateleiras e as garrafas por tras dele. Alguns espelhos estavam quebrados e algumas luzes queimadas. Não é que simplesmente faltasse glamour ao lugar, ele estava definitivamente decadente.

Ela queria um drink, como o das mulheres nos filmes de máfia, gostaria que alguem tivesse aparecido para lhe comprar algo mas... o barman chegou primeiro, e agora?
Teve que explicar que queria o copo em forma de funil, de cabo longo, que vem com um palitinho e uma cereja. Sentia-se ridicula e tinha a certeza que os outros sabiam. Olhou em volta brevemente, primeiro ficou satisfeita de não estar sendo observada... depois frustrada novamente, era evidentemente a mulher mais elegante do lugar e não lhe haviam dispendido nem ao menos um sorriso naquela noite que começava a ficar longa.

Ela acordou com o copo diante de si. Era... ainda não sabia o que era, o atendente deixou ali e saiu. Ela pegou a taça pela haste fitando o liqüído longamente, uma expressão de profunda reflexão. Esperava encontrar ali algum tipo de passagem para realizar sua fantasia, para encontrar o estranho que mudaria sua vida e por quem valeria a pena largar seu emprego de secretária e o curso de administração que vinha sendo arrastado por anos.

Molhou os lábios com a lingua brevemente levando-os a borda do globo e deu um discreto primeiro gole. O gosto não era bom, mas não era de tudo ruim. Os olhos rodaram o lugar rápidamente, ninguém estava olhando. Droga! Terminou de entornar a bebida desconhecida e devolveu o copo na mesa.

Agora sim o barman sorriu retirando o copo enquanto perguntava: -Mais um?

Ela fez sim com a cabeça evitando que o marejado dos olhos lhe borrasse a maquiagem. Era o única mulher de vermelho do lugar, era a única pessoa de vermelho. Consultou o relógio, já estava ali a uns bons 40minutos. Será que este não era o lugar certo? Mas... onde poderia ir? Não conhecia os "points" da cidade, não gostava de barulho, não queria aquela gente amontoada que não sabe em quem se esfrega. Tinha uma cena pronta em sua cabeça que precisava acontecer aquela noite.


(bem... eu aceito sugestões do que deve acontecer... a idéia que eu tinha em mente é trágica e... sei lá... deu preguiça de continuar)


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