Eu conheci muitas pessoas pela internet. Muitos que se
tornaram apenas contatos de facebook, mas também muitos que se tornaram bons
amigos, daqueles que você encontra raramente, quando a “vida de trabalhador
adulto” permite, mas que ainda assim sempre é bom encontrar.
Eu conheci muita gente conversando em chats aleatórios, gente que
tinha algo há ver, gente nada há ver também. Conversar era uma das coisas mais
legais para se fazer online. Conversar com um nick random, as cegas, sem saber,
e graças aos céus muitas vezes sem se importar com gênero, raça e todas essas
coisas. Era a melhor parte da internet.
Vão dizer que eu sou saudosista - eu sou, é verdade - mas hoje
a internet virou o lugar em que é bonito odiar, “tocar o foda-se”, excluir alguém
por causa de partido, de religião, de opinião. Virou o reino da intolerância onde
não se constrói nada positivo a partir de posicionamentos diferentes, apenas
segregação.
Eu gostava de não saber, eu gostava quando não importava se
as letras que brotavam na minha tela vinham de branco, negro, gordo, magro,
doente, gay, hetero, horda ou aliança. Me sinto como alguém que teve a sorte de
experimentar um mundo onde nada disso importava. Alguém que pôde se surpreender
com cada um dos contatos que conheceu pessoalmente sem ter visto uma única foto
antes. Alguém que não fugiu de nenhum ‘IRContro’ porque já conversava tanto,
já tinha tanto em comum com as pessoas, que as aparências não importavam mais (e eu sou péssima em nota-las também; "a pior fisionomista que existe", me dizem).
Eu gostava de começar conversas falando sobre música,
filmes, RPG, esoterismo, mitologia, o jornal de ontem. Coisas nas quais não sou expert, e deixar a
coisa rolar. De conversar com gente que também não se importava em saber se eu
era mulher ou homem (eu raramente respondia quando isso era perguntado).
Recentemente eu tive uma experiência interessante conversando
com um vendedor do eBay, com quem puxei assunto meio casualmente depois de
fazer uma pergunta em um dos itens que ele estava vendendo, e eu acabei comprando. E nos
trocamos várias mensagens e conversamos bastante, até o negócio ir para o
Facebook, onde a conversa se transformou em eventuais likes timidos e um grupo de jogo em comum.
O Facebook é esse espaço meio público de mais, onde ninguém consegue
achar seu papel. Você tem que ser o
filho, a mãe/pai, o profissional, o primo descolado, o amigo, a pessoa que você gostaria de ser e
mais um monte de coisas, tudo porque você está, inevitavelmente, exposto a
todos os seus círculos sociais ao mesmo tempo, de uma forma que nunca
aconteceria na realidade. Na realidade ninguem tem que desempenhar todos os seus papéis ao mesmo tempo. Alguns são simultaneos as vezes, e já não é facil.
Eu sinto falta da internet sem foto, sem rotulo, sem idade.
Da internet onde você tinha que conversar com as pessoas para conhece-las, não
fuçar a wall delas e tirar conclusões (muitas vezes equivocadas). Da internet
onde as coisas não aconteciam do mesmo jeito que acontecem no mundo real.
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